quinta-feira, 31 de março de 2011

Negros na classe social brasileira


      O estudo da mobilidade social ascendente da população brasileira, em particular o aumento apontado por diferentes estudos demográficos das classes médias em relação aos demais segmentos populacionais, leva-nos a uma reflexão sobre as desvantagens raciais relacionadas à ascensão social de não-brancos.
      Embora a classe média tenha crescido em termos relativos e absolutos, entre a população negra esse crescimento foi significativamente menor. Segundo dados do IPEA, a quantidade de negros pertencentes à classe média ainda é muito pequena. Apesar disso, a classe média negra das capitais brasileiras teve um crescimento relativo de 10% entre os anos de 1992 e 1999, chegando ao patamar de um terço da classe média brasileira.             
Para a população negra de classe média a superação dos estereótipos vinculados à cor, (admitindo-se que os negros se encontram muito freqüentemente realizando atividades desprestigiadas socialmente), constitui-se um problema que podemos associar a uma redefinição da própria identidade negra. Como se não fossem suficientes as dificuldades de uma recente transição do país de economia agrícola para economia urbana industrial e de serviços, há, ainda,  o peso da herança deixada pelo longo período de escravidão no país, que influencia o racismo a que  negros ainda são submetidos.
Neste sentido é que os afro-descendentes se empenham para a aquisição de certos símbolos que garantam sua distinção em relação ao restante dos afro-descendentes pertencentes às camadas populares, como a posse de um diploma universitário, o exercício de um trabalho não manual e o cultivo de algumas práticas de consumo que envolve  diferenças no tamanho das residências, no modelo e ano do automóvel adquirido, no número de empregados domésticos e no modo de vestir.
      O Brasil está começando a compreender que não é possível descrever, no caldo resultante de nosso caldeirão, o sabor isolado de cada ingrediente lá colocado. O Brasil é, simplesmente, o caldo resultante. Sendo assim, aceita-se como uma sociedade negra. Tanto quanto uma sociedade branca, índia, imigrante ou miscigenada. Valorizar, hoje, a cultura negra é valorizar o que há de resultante no caldeirão no qual todos nós (descendentes de negros, ou não) estamos igualmente inseridos. Historicamente, somos todos nós. A ascensão social da população negra tem como maior obstáculo a discriminação racial existente em nossa sociedade.  Ao incorporar uma representação do espaço social como um espaço em que é possível a ascensão social, os cidadãos negros de classe média muitas vezes relevam o fato de o racismo existente na sociedade brasileira tornar suas perspectivas de futuro frustradas, o que corresponde a reconhecermos que um conjunto de possibilidades teoricamente existentes, na prática podem se tornar inviáveis para um negro no Brasil, limitando efetivamente o campo de suas possibilidades, já que nem sempre o capital cultural acumulado pelos negros pode ser convertido em uma posição social correspondente.


Por: Cássia Raquel 

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