quinta-feira, 31 de março de 2011

Negros na classe social brasileira


      O estudo da mobilidade social ascendente da população brasileira, em particular o aumento apontado por diferentes estudos demográficos das classes médias em relação aos demais segmentos populacionais, leva-nos a uma reflexão sobre as desvantagens raciais relacionadas à ascensão social de não-brancos.
      Embora a classe média tenha crescido em termos relativos e absolutos, entre a população negra esse crescimento foi significativamente menor. Segundo dados do IPEA, a quantidade de negros pertencentes à classe média ainda é muito pequena. Apesar disso, a classe média negra das capitais brasileiras teve um crescimento relativo de 10% entre os anos de 1992 e 1999, chegando ao patamar de um terço da classe média brasileira.             
Para a população negra de classe média a superação dos estereótipos vinculados à cor, (admitindo-se que os negros se encontram muito freqüentemente realizando atividades desprestigiadas socialmente), constitui-se um problema que podemos associar a uma redefinição da própria identidade negra. Como se não fossem suficientes as dificuldades de uma recente transição do país de economia agrícola para economia urbana industrial e de serviços, há, ainda,  o peso da herança deixada pelo longo período de escravidão no país, que influencia o racismo a que  negros ainda são submetidos.
Neste sentido é que os afro-descendentes se empenham para a aquisição de certos símbolos que garantam sua distinção em relação ao restante dos afro-descendentes pertencentes às camadas populares, como a posse de um diploma universitário, o exercício de um trabalho não manual e o cultivo de algumas práticas de consumo que envolve  diferenças no tamanho das residências, no modelo e ano do automóvel adquirido, no número de empregados domésticos e no modo de vestir.
      O Brasil está começando a compreender que não é possível descrever, no caldo resultante de nosso caldeirão, o sabor isolado de cada ingrediente lá colocado. O Brasil é, simplesmente, o caldo resultante. Sendo assim, aceita-se como uma sociedade negra. Tanto quanto uma sociedade branca, índia, imigrante ou miscigenada. Valorizar, hoje, a cultura negra é valorizar o que há de resultante no caldeirão no qual todos nós (descendentes de negros, ou não) estamos igualmente inseridos. Historicamente, somos todos nós. A ascensão social da população negra tem como maior obstáculo a discriminação racial existente em nossa sociedade.  Ao incorporar uma representação do espaço social como um espaço em que é possível a ascensão social, os cidadãos negros de classe média muitas vezes relevam o fato de o racismo existente na sociedade brasileira tornar suas perspectivas de futuro frustradas, o que corresponde a reconhecermos que um conjunto de possibilidades teoricamente existentes, na prática podem se tornar inviáveis para um negro no Brasil, limitando efetivamente o campo de suas possibilidades, já que nem sempre o capital cultural acumulado pelos negros pode ser convertido em uma posição social correspondente.


Por: Cássia Raquel 

terça-feira, 29 de março de 2011

Consciência negra e a música no Brasil

 No próximo dia 20 celebra-se no país o "Dia da Consciência Negra", data oficialmente presente no calendário de efemérides brasileiras desde 1960, que somente nos últimos anos - e ainda assim, somente em algumas cidades - ganhou o status de feriado.
Por si próprio, o feriado levanta discussões e controvérsias típicas de uma nação onde o racismo nunca é abordado de forma direta e profunda, o que inclusive faz com que alguns cheguem mesmo a pensar que não há racismo no Brasil.
Mas aproveitaremos a ocasião para levantarmos alguns aspectos pouco abordados sobre a presença negra nas práticas musicais do país e, quem sabe, ficarmos um pouco mais "conscientes" sobre este assunto.
Quando se fala do papel do negro e raças mestiças nas práticas musicais do Brasil, é natural associá-las à música popular urbana do início do século XIX, em especial, no Rio de Janeiro. Tal fato justifica-se pela evidente importância destas práticas musicais para a consolidação do que se costuma chamar de "identidade musical brasileira", que teria como base ritmos oriundos da cultura musical negra. A questão da identidade nacional não se resume a isto, mas não cabe aqui nos aprofundarmos sobre o assunto.
Entretanto, se a presença do negro é sine qua non para compreensão da música brasileira a partir do século XIX, engana-se quem pensa que sua importância restringe-se à música popular, tendo sido por meio de mãos pardas que boa parte das práticas musicais que chamamos de clássica foi feita desde os primórdios de nossa história da música.
Mas ao enveredarmos pelo caminho histórico necessariamente esbarrarmos em um grande problema, isto é, a fragilidade de informações existentes. Evidentemente, esta trajetória começa com a chegada dos primeiros navios negreiros e a consolidação dos primeiros grupos reunidos em torno das senzalas e, posteriormente, dos quilombos. Entretanto, por mais que a crônica da época deixe clara a presença da música no cotidiano destes povos, sua diferença para com as práticas ocidentais, aliadas ao medo que esta música evocava nos brancos devido a sua estreita relação com seus ritos religiosos (então simplesmente entendidos como feitiçarias), fez com que virtualmente não existisse nenhum registro histórico destas práticas, que hoje em dia só podem ser pensadas e praticadas sob a perspectiva da antropologia e da etnomusicologia. Não deixa de ser irônico constatar que os primeiros registros destas práticas foram feitos por viajantes europeus, e não por pessoas da terra.
Porém, os negros começam e marcar seu território definitivo em nossa música quando, obrigados a freqüentar templos cristãos devido às convenções sociais vigentes, eles passam a participar de forma ativa do serviço musical católico, manuseando instrumentos ocidentais, cantando serviços religiosos em latim e mesmo compondo música.
Tal fenômeno foi especialmente rico nas Minas Gerais do século XVIII, período de grande prosperidade econômica devido à extração de pedras e metais preciosos, que demandavam uma quantidade colossal de mão de obra escrava. Muitos desses escravos se associavam a alguma "Irmandade" ou "Ordem Terceira", organizações ou mesmo templos presentes na estrutura social católica que, neste contexto, não raro eram compostos integralmente por negros. É desta época que datam os primeiros grupos musicais com instrumentos ocidentais, incluso uma orquestra integralmente formada por negros.
Entretanto, nesse ponto o papel do negro em nossa história é ainda visto como coadjuvante, e rara são as publicações (das poucas disponíveis) que se dedicam de forma sistemática ao assunto.
Será que o pouco caso que dedicamos à perspectiva histórica dos negros em nossa música não é em si um reflexo do pouco caso que o Brasil faz hoje em dia com a música como um todo? Será que, neste momento, continuamos a escrever tristes linhas nas quais a arte neste país ainda não se mostra como alternativa à barbárie?

Por:SharaLetícia 


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Negro é Raiz! Consciência e Orgulho Negro Repúdio a "Um post racista" de Danilo Gentili!
"Um sorriso negro

Um abraço negro

Traz felicidade

Negro sem emprego

Fica sem sossêgo

O negro é a raiz da Liberdade!"



A Juventude Negra do PT, JN13, vem a público manifestar seu repúdio ao jornalista-“comediante” Danilo Gentili, que no dia 27 de julho de 2009 fez uso de seu site para expressar opiniões equivocadas ,preconceituosas e racistas sobre a luta do movimento negro brasileiro .( Fica redundante ou é povo ou movimento negro.Acho ideal movimento negro dá um sentido amplo e de nacionalidade)e s com relação ao povo negro. O “comediante” em questão subscreve um texto de título “Um post racista” no qual compara os negros a macacos e nos chama de burros.



O movimento negro brasileiro tem uma história marcada por muitas lutas. A primeira luta pelo fim da escravidão, a luta pelo direito ao voto e a luta cotidiana pelo acesso à Educação de qualidade e a condições de vida digna e igualitária.



Não toleraremos retrocessos! Não toleraremos um discurso que se mascara de ambição filosófico-questiona dora, mas que nada mais faz do que explicitar o racismo impregnado na mente daquele que o escreve. Não toleraremos a impunidade daqueles e daquelas que se escondem atrás de discursos de pretensão liberalizante e falsos pressupostos igualitários para questionar as formulações e reflexões dos movimentos que defendem os interesses de mais de 50% dos brasileiros.

Temos orgulhos de ser negros e negras. Temos orgulho de nossas tranças, dos costumes de nossos ancestrais, dos nossos costumes!



O "comediante" em questão, antes de verbalizar qualquer posição sobre qualquer formulação de movimentos históricos deveria ler. A leitura e a pesquisa são condições primeiras daqueles que se pretendem questionadores, pensadores, reflexivos para não cair em conclusões superficiais, amadoras ou até mesmo, burras já que ele tem o papel de formar opinião.



Passamos por um importante momento no país. Um momento de avanços na melhoria de vida do povo negro brasileiro com a conquista das cotas com recorte étnico-racial nas universidades, do sistema público de saúde estar capacitado sobre anemia falciforme, de programas para a juventude que refletem diretamente na vida de milhões de jovens negros, da criminalização do racismo, da criação de uma secretaria para tratar de políticas de promoção da igualdade racial de modo transversal, etc. E queremos mais avanços! Lutaremos pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no congresso, estaremos presentes nas conferências de Segurança Pública defendendo o fim do genocídio da juventude negra (a mais afetada com a violência), de Educação por melhorias no ensino básico e pela inclusão do povo na universidade e de Comunicação defendendo as rádios comunitárias, democratização dos meios de comunicação, maior diversidade étnico-racial e cultural nos meios de comunicação, etc.


Por: MyrellaMiguel                           OBS: desculpas, pelo post repetido. :D

Voltei, com mais uma música.

E aí galera? Acompanhando o blog regularmente? Aqui vai uma dica de música que fala sobre a luta dos afro-descendentes no dia-a-dia, na comunidade e etc.


                Negro Drama - Racionais Mc's

sábado, 26 de março de 2011

PB tem maior índice de negros mortos.

A Paraíba encabeça a lista dos estados brasileiros com maior disparidade entre homicídios de pessoas negras e brancas. Em 2008, foram mortos 1.083% mais negros do que brancos em todo o estado. Para cada pessoa branca assassinada, 20 negros foram mortos. Na contramão desta estatística, a Paraíba apresentou o menor índice, de todos os estados do Brasil, a menor taxa de homicídios de brancos. Os números foram divulgados ontem em Brasília e estão no Mapa da Violência 2011 - um estudo nacional apresentado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz -, cujos dados são referentes ao ano de 2008.



De acordo com dados da pesquisa, violência atinge mais os jovens negros Foto: Ovídio Carvalho/ON/D.A Press
Em 2002, primeiro ano que a taxa começou a ser medida, foram 386% de negros mortos a mais do que os branco e desde então a Paraíba vem encabeçando a lista. Já em 2005, o número saltou 678%. Em 2008, foram 925 negros mortos, enquanto 46 pessoas brancas foram vítimas de homicídios. Apesar de encabeçar a lista, os números da Paraíba seguem a tendência nacional, onde dois em cada três homicídios registrados são em pessoas negras. Alagoas, Bahia, Pernambuco e Ceará completam a lista da disparidade entre população branca e negra.

Entre as causas apontadas pelo crescente número da população negra está a vulnerabilidade social. De acordo com o pesquisador, os negros estão entre os mais pobres e morando em zonas de risco. "Alguns estados têm taxas insuportáveis. Não é uma situação premeditada, mas tem as características de um extermínio. A distância entre brancos e negros cresce muito rápido. O que acontece com a segurança pública é o que já aconteceu com outros setores, como educação, saúde, previdência social: a privatização. Quem pode, paga a segurança privada", diz o pesquisador Waiselfisz. 

E é justamente extermínio a palavra usada por representantes da Organização de Mulheres Negras da Paraíba Bamindelê. "Quando vemos dados como estes, observamos um processo de extermínio da população negra porque são criados estereótipos em torno do negro. Para melhorar esse aspecto, é preciso admitir que háracismo no Brasil e políticas públicas que eduquem para a diferença", acredita Luana Natielle, educadora social da Bamidelê.

Se considerar o índice de homicídios por faixa etária da população negra a Paraíba também aparece no topo da lista. A população considerada jovem (entre 15 e 24 anos) foi responsável por 336 das mortes totais registradas em 2008, enquanto 16 jovens brancos foram vítimas de homicídio. O número de vítimas entre os negros apresenta-se em uma crescente desde 2002, quando o número era 167 saltando para 228 no ano de 2005.

Capital 

O Mapa da Violência também levantou dados referentes aos homicídios nas Capitais dos estados e constatou que João Pessoa subiu seis posições no ranking e agora está na 5ª colocação. A capital paraibana, há dez anos, encontra-se na 11ª posição entre as 27 capitais. A cidade está atrás de Maceió (Capital mais violenta), Recife, Vitória e Salvador.

O crescimento de homicídios na Capital paraíba em dez anos foi de 89%. A taxa de homicídio em João Pessoa passou de 33,3por cem mil habitantes em 1998 para 107,1 em 2008. Naquele ano foram registrados 220 homicídios enquanto neste o número saltou para 416, o maior registrado em dez anos. Esse crescimento segue uma tendência nacional, uma vez que 18 das 27 Capitais apresentaram crescimento no registro de homicídios. Se considerar os municípios com mais de cem habitantes, João Pessoa aparece na 85ª posição.



Postado por: Myrella Miguel

É, música de novo;


Gostaria de ressaltar que os últimos dois posts, foram retirados da revista Carta Capital.
É, como ninguém comentou a postagem lá embaixo, fiquei frustrado e não faço mais essas coisas pra adivinhar.
Aqui está a dica de música de hoje, como prometi, um compositor Brasileiro. Djavan.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ecos da escravidão



No anúncio de tevê feito para atrair turistas pelo governo da Bahia, o menino dizia que, quando crescesse, queria ser capoeirista como o pai. Por volta das 10 da noite de 21 de novembro do ano passado, Mestre Ninha, pai de Joel da Conceição Castro, chamou os filhos para dentro de casa, no instante em que a polícia fazia uma incursão pelo bairro onde mora a família, Nordeste de Amaralina, um dos mais violentos de Salvador. Segundos depois, o garoto foi atingido por uma bala perdida e morreu. Tinha 10 anos de idade.
A história do menino que não realizou seu sonho por não ter crescido, infelizmente, não é exceção. Como ele, cerca de outras 50 mil crianças, jovens e adultos, morrem vítimas de assassinato todos os anos no País, brancos e negros. Mas negros, como Joel, morrem em proporção muito maior. E o pior: a diferença tem aumentado nos últimos anos. Em 2002, foram assassinados 46% mais negros do que brancos. Em 2008, a porcentagem atingiu 103%. Ou, em outras palavras, para cada três mortos, dois tinham a pele escura. Quem maneja os dados preliminares de 2009 diz que a situação piorou ainda mais.
Não bastasse, os crescentes investimentos em segurança pública feita pelos estados e pela União parecem ter beneficiado, como de costume, a “elite branca”, como definiu o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo. Entre 2002 e 2008, o número de brancos assassinados caiu 22,3%. A morte de negros cresceu em proporção semelhante: os índices foram 20% maiores, em média. Em algumas unidades da federação, os números se aproximam de características de extermínio: na Paraíba, campeã dessa triste estatística, são mortos 1.083% (isso mesmo) mais negros do que brancos. Em Alagoas, 974% mais. E na Bahia, a terra do menino Joel, os assassinatos de negros superam em 439,8% os de brancos.
Até mesmo entre os suicidas os negros mortos superaram os brancos. Houve crescimento de 8,6% nos suicídios de cidadãos brancos, mas, entre os negros, os que tiraram a própria vida aumentaram 51,3%.
Os critérios utilizados para definir a “cor” das vítimas de violência são os mesmos do censo do IBGE. Nos atestados de óbito do Brasil, a partir de 1996, mais notadamente desde 2002, passaram a ser apontadas as características físicas dos mortos. Foram considerados no estudo todos os classificados como “pardos”, “pretos” e “negros” para chegar a esses números que assustam, em um País onde, como alguns insistem em dizer, principalmente nestes dias de carnaval, “não existe racismo”. Os passistas, puxadores de samba e operários das escolas de samba, que serão saudados como exemplos do “congraçamento de raças” são os mais propensos a perder a vida, sem confete, sem serpentina e em alguma esquina escura da periferia.
Surpreende que os indicadores tenham piorado mesmo com as políticas de ação afirmativa promovidas pelo governo Lula desde 2002 e com a melhora nos índices de Desenvolvimento Humano no Nordeste, região em que a violência mais cresceu, segundo os dados oficiais.
Obviamente, a desigualdade é um dos fatores a explicar esse abismo. Quanto mais um país enriquece e proporciona condições semelhantes a seus cidadãos, mais a criminalidade tende a diminuir. Mas ela não é o único fator a ser levado em conta. O Brasil experimentou um bom crescimento da economia nos últimos anos, associado a uma maior distribuição de renda. Mesmo assim, a melhora nos números de violência tem sido pontual, quando não cresce, a depender da localidade analisada. “A ineficácia das instituições de coerção também tem um peso importante no estado das coisas”, diz o cientista político José Maria Nóbrega, professor da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.
Sobre a incrível curva ascendente dos homicídios em seu estado natal, sobretudo no Maranhão, que já foi o mais tranquilo e em dez anos quadruplicou os assassinatos, Nóbrega é partidário da mesma teoria de vários de seus colegas estudiosos da violência: como ampliou-se o cerco nas maiores capitais do País – Rio e São Paulo, onde diminuíram os homicídios –, o foco da criminalidade deslocou-se para as cidades menores e para outras regiões. “A violência não migrou apenas do Sudeste para o Nordeste, mas das áreas metropolitanas para o interior. A Paraíba é uma exceção, porque ainda não se aplicaram políticas sérias contra o crime na capital.”
O resultado é que tanto em João Pessoa quanto em municípios menores os índices explodiram nos últimos anos. No Mapa da Violência, a capital paraibana aparece como a quarta onde os homicídios mais cresceram entre 1998 e 2008. Mas um município como Bayeux, na região metropolitana, com cerca de 95 mil habitantes, teve 84 assassinatos por 100 mil habitantes em 2009, um índice “avassalador”, segundo Nóbrega, comparado à média nacional, de 26,4 homicídios anuais.
Nas páginas policiais dos jornais, volta e meia aparecem notícias sobre a descoberta de grupos criminosos originários do Sul e Sudeste. Há duas semanas, a Polícia Federal desarticulou, em Salgueiro, Pernambuco, uma quadrilha ligada ao PCC paulista instalada em pleno sertão. Ao todo, 13 suspeitos foram presos. O esquema consistia em importar drogas de São Paulo e, a partir da pequena Salgueiro, com 52 mil habitantes, redistribuir para a Bahia, Pernambuco e Piauí.
“Os criminosos seguem táticas de guerrilha”, explica o sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, que estuda a violência no Brasil há 15 anos e é o autor do Mapa da Violência. “Lembra-se daquela cena dos traficantes fugindo para o mato quando a polícia ocupou o Morro do Alemão? Então, o crime só parte para o confronto quando possui superioridade numérica. Quando tem minoria, submerge. Como em algumas capitais eles ficaram em situação de inferioridade, migraram para outras.”
Para o caso da mortandade dos negros mais especificamente, Waiselfisz levanta duas hipóteses. A primeira delas, compartilhada por diversos especialistas, é que acontece  com a segurança o mesmo ocorrido com a educação e a saúde: a privatização. Assim como quem possui condições financeiras vai a escolas particula-res, tem plano de saúde e por isso acesso a melhores hospitais, também se protege melhor do crime quem tem mais dinheiro. As guaritas, grades, carros blindados, os filhos com celular e os seguranças privados (em geral policiais fazendo bicos) protegem da violência as classes sociais mais altas e mais brancas.
Se essa é uma causa, digamos, privada, a outra razão é de responsabilidade direta do poder público.
“Tudo indica que as políticas que estamos desenvolvendo desde 2002 no setor de segurança, em muitos estados, se dirigem fundamentalmente aos setores mais abastados da sociedade”, critica o sociólogo. “Se a maioria dos negros é pobre, é óbvio que não serão beneficiados.”
Realmente, o problema no Brasil não parece ser a escassez de investimentos, mas a sua aplicação. No ano passado, os governos municipais investiram cerca de 2 bilhões de reais no setor, segundo cálculos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum, reforça a tese da assimetria: “Os investimentos historicamente ficaram concentrados nas capitais e regiões metropolitanas. Com o crescimento das cidades do interior, era natural que os índices de violência aumentassem. Mas eles só atingiram esse patamar tão elevado porque os municípios não estavam preparados para o problema”.
O caso de Salvador corrobora a opinião de Waiselfisz. Uma análise das chamadas Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp), criadas em 2009, leva à impressão de que se tem na capital baiana um verdadeiro apartheid por bairro, em termos da relação entre o número de policiais e habitantes. Enquanto os bairros onde moram os mais ricos, como a Barra e a Graça, possuem a proporção de um policial para cada 200 habitantes, bairros mais populares, como Liberdade e Pirajá, têm um policial para cada 2,1 mil habitantes.
Há algo mais grave, segundo Carlos Alberto da Costa Gomes, coordenador do Observatório de Violência da Bahia e professor de Desenvolvimento Urbano na Universidade de Salvador. “O policiamento na capital da Bahia é centrado em viaturas. Isso, na cidade oficial, que tem ruas, é eficiente. Mas, no que chamo de ‘cidade informal’, onde moram 70% dos soteropolitanos, as viaturas não chegam, o acesso é difícil a automóveis. Isto favorece o surgimento de enclaves propícios à criminalidade. E, é claro, a maioria dos que vivem neles é negra.”
Agora, em virtude do carnaval em Salvador, espanta-se Costa Gomes, o governo estadual prometeu deslocar 23 mil policiais para salvaguardar a folia. Sendo o efetivo total no estado de 33 mil policiais militares e 6 mil civis, não são poucos os que se perguntam: como fica o restante da sociedade? “Todo o efetivo policial vai ser colocado a serviço de algo no qual quem lucra é o empresário, a iniciativa privada”, afirma Gomes. “Não sou contra o carnaval, mas estamos mesmo adotando o modelo correto?”
Junta-se aos assassinatos em brigas de grupos rivais, dívidas de tráfico ou vinganças a ocorrência da violência policial, de que também são vítimas uma maioria de negros. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a proporção de pretos e pardos mortos pela polícia é maior do que na população em geral.
A socióloga Luiza Bairros, ministra da Igualdade Racial, opina que o problema começa na forma como os policiais são treinados para enxergar o negro. “A imagem utilizada para compor o criminoso é calcada na pessoa negra, mais especificamente no homem negro. O negro foi caracterizado como perigoso em estudos de criminologia e o lugar onde ele mora é visto como suspeito. É automaticamente enquadrado nas três possibilidades de construção da suspeição: lugar, características físicas e atitude. Ou seja, como o racismo institucional existe, acaba moldando o comportamento de boa parte da corporação.”
Em São Paulo, em abril do ano passado, o motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, de 30 anos, foi espancado até a morte no 9º Batalhão da PM, no bairro da Casa Verde. Havia sido detido, ao lado de outros dois suspeitos, para investigação de um furto de bicicleta. Para ocultar o crime, os policiais abandonaram o corpo de Santos a duas quadras do batalhão. Depois, o levaram já morto a um hospital e registraram um boletim de ocorrência falso, como se o motoboy tivesse sido encontrado na rua inconsciente, mas ainda com vida. O Ministério Público denunciou 12 PMs pelo homicídio. A Ouvidoria da Polícia não descarta a possibilidade de as agressões terem sido motivadas por preconceito racial.
“O motoboy era um negro próximo do local onde uma bicicleta foi furtada, logo um suspeito em potencial para a polícia”, afirma o ouvidor da polícia, Luiz Gonzaga Dantas. “Infelizmente, muitos policiais ainda se portam como verdadeiros capitães do mato dos tempos da escravidão. O negro, pobre e marginalizado, é sempre visto como suspeito e rotineiramente é vítima de abordagens truculentas.”
Apenas no ano passado, a polícia paulista matou 495 indivíduos. O número é menor que a média registrada em 2009, quando 524 foram mortos em operações policiais, mas não há motivo para comemoração. “Trata-se de um índice de letalidade altíssimo, um dos maiores do mundo. E devemos recordar que, em 2008, o número de homicídios cometidos pela polícia era bem menor, 371”, comenta Dantas. “Não concluímos o levantamento, mas posso garantir que a grande maioria das vítimas tem o mesmo perfil: homem, jovem, negro e pobre.”
A ministra da Igualdade Racial lembra que sempre houve, dentro do movimento negro, muitos policiais que conseguem entender o racismo institucionalizado e que lutam contra ele. “Em todos os países onde isso mudou, como na Inglaterra, foi porque houve ação e organização dos policiais negros. Se o movimento é criado dentro da corporação tem maior legitimidade.”
Para Luiza Bairros, a política de cotas não foi suficiente para diminuir os índices de criminalidade entre a população negra porque atinge apenas a parcela que conseguiu concluir o ensino médio. E em termos populacionais, a parcela incapaz de concluí-lo é muito maior. “Existe um fenômeno nas cidades de diminuição das matrículas no ensino fundamental nos turnos vespertino e noturno. E as pessoas fora da escola são exatamente o contingente mais atingido pela criminalidade”, afirma a ministra. “Por isso, acho oportuno que o governo fortaleça agora o ensino médio e profissionalizante.”
É possível, no entanto, que para reduzir os homicídios de negros as políticas de ação afirmativa na área da educação precisem, de alguma forma, ser reproduzidas na segurança pública. Os especialistas criticam o foco na investigação do crime já ocorrido, em vez de, estrategicamente, analisar os locais que favorecem o seu surgimento e agir preventivamente. A solução mais consagrada atualmente é o policiamento comunitário, inspirado nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio de Janeiro. As UPPs estimulam a criação de laços com a comunidade do local protegido e aumentam a confiança dos moradores na polícia, o que pode diminuir a antiga relação de conflito com a população negra. É preciso também acabar com a sensação generalizada de impunidade.
A propósito, a bala que matou o menino negro Joel, concluiu em janeiro o inquérito feito pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, saiu da arma de um policial. A única punição para os nove envolvidos, até o momento, foi o afastamento de operações nas ruas. Passaram a fazer trabalhos internos na PM, mas podem voltar a “proteger” os baianos em 60 dias. Inclusive o soldado Eraldo Meneses Souza, autor do disparo.

A maior desgraça!


Três séculos de escravidão vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira
Escrevi certa vez que se Ronaldo, o Fenômeno, se postasse na calada da noite em certas esquinas de São Paulo ou do Rio, e de improviso passasse a Ronda, seria imediata e sumariamente carregado para o xilindró mais próximo. Digo, o mesmo Ronaldo que foi ídolo do Brasil canarinho quando adentrava ao gramado. Até Pelé, creio eu, nas mesmas circunstâncias enfrentaria maus bocados, embora se trate de “um negro de alma branca”.
Aí está: o protótipo do preto brasileiro, o modelo-padrão, está habilitado a representar e orgulhar o Brasil ao lidar com a redonda ou ao compor música (popular, esclareça-se logo), mas em um beco escuro­ será encarado como ameaça potencial. Muitos, dezenas de milhões, acreditam em uma lorota imposta pela retórica oficial: entre nós não há preconceito de raça e cor. Pero que lo hay, lo hay. Existem provas abundantes a respeito e a reportagem de capa desta edição traz mais uma, atualíssima. Na origem, obviamente, a escravidão, mal maior da história do Brasil.
Há outros, está claro. A colonização predatória, uma independência sequer percebida pelo povo de então, uma república decidida pelos generais, avanços respeitáveis enodoados por chegarem pela via da ditadura de Vargas. E o golpe de 1964, último capítulo do enredo populista comandado por uma elite que, como diz Raymundo Faoro, quer um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo. Enfim, um esboço de democratização pós-ditadores fardados ainda em andamento.
A desgraça mais imponente são, porém, três séculos de escravidão e suas consequências. A herança da trágica dicotomia, casa-grande e senzala, continua a determinar a situação do País, dolorosamente marcada pela desigualdade. Há quem pretenda que o preconceito à brasileira não é racial, é social, mas no nosso caso os qualificativos são sinônimos: o miserável nativo não é branco.
A escravidão vincou profundamente o caráter da sociedade. De um lado, os privilegiados e seus aspirantes, herdeiros da casa-grande, e os empenhados em chegar lá, e portanto ferozes e arrogantes em graus proporcionais. Do outro lado, a maioria, em boa parte herdeira da senzala, e portanto resignada e submissa. De um lado uma elite que cuidou dos seus interesses em lugar daqueles do País, embora o Brasil represente um patrimônio de valor inestimável, de certa forma único. Do outro, a maioria conformada, incapaz de reação porque, antes de mais nada, tolhida até hoje para a consciência da cidadania.
O povo brasileiro traz no lombo a marca do chicote da escravidão que a minoria ainda gostaria de usar, quando não usa, e não apenas moralmente. Aqui rico não vai para a cadeia, superlotada por pobres e miseráveis, e não se exigem desmedidos esforços mentais para localizar a origem dessa situação medieval. Trata-se simplesmente de ler um bom, confiável livro de história.
Será possível constatar que afora o devaneio de alguns poetas e a reflexão de alguns pensadores, o maior problema do Brasil, a desigualdade gerada pela escravidão, nunca foi enfrentado com o ímpeto e a determinação necessários. Nos anos de Lula, agredido por causa do invencível preconceito pela mídia nativa, na sua qualidade de perfeita representante dos herdeiros dos senhores de antanho, a questão foi definida com nitidez. Mas se o diagnóstico foi correto, os remédios aviados foram insuficientes. Poderia ser de outra maneira? Melhorar a vida das classes mais pobres não implica automaticamente a conquista da consciência da cidadania, que há de ser o objetivo decisivo.
CartaCapital confia na ação da presidenta Dilma e acredita que seu governo saberá dar prosseguimento às políticas postas em prática pelo antecessor e empenhar-se a fundo no seu próprio programa de erradicação da miséria. Sem esquecer que o alvo principal fica mais adiante.

Dica de música (novamente)

Voltei, com mais uma dica de música. Agora, do rei do reggae, Bob Marley (como diz o nosso amigo Zarrillo, Borbey Marley xD)



A música se chama No Woman No Cry, creio que Gilberto Gil fez uma versão dessa música também. Ficou a dica aí do jamaicano do cabelo rastafari. Mais uma coisa, vamos tentar nos próximos posts, ter um tom de descontração. Beleza?
Valeu galera. Fiquem sempre atentos aí aos nossos posts, e a próxima dica de música vai ser de um compositor brasileiro, tentem adivinhar com comentários nesse post. Na próxima música eu digo o campeão, e o compositor, e claro, com o vídeo da música.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Futebol Afro

    Em 1923, uma equipe considerada pequena, que acabara de ser promovida a primeira divisão, conquistou o campeonato carioca. Como se isso não bastasse para provocar a ira dos aristocráticos clubes grandes, o campeão era formado por trabalhadores de origem humilde, brancos, negros e mulatos, sem dinheiro nem posição social. Este campeão era o Vasco da Gama.

Naquela época, o racismo imperava no futebol brasileiro. Em 1921, era debatido se jogadores de cor deveriam ser convocados para os importantíssimos confrontos entre a seleção brasileira e a da Argentina.

Como vingar-se do atrevimento do Vasco? Os clubes aristocratas reuniram-se e deliberaram excluir jogadores humildes, sob a alegação de que praticavam o profissionalismo.

Numa sessão realizada na sede da Liga Metropolitana, Mário Polo, o presidente do Fluminense, apresentou as condições impostas aos chamados pequenos clubes. Estes teriam que apresentar condições materiais e técnicas e eliminar de seus quadros sociais jogadores considerados profissionais, constantes de uma lista que foi lida no momento.

Finalmente usou da palavra Barbosa Junior, do S.C. Mackenzie, representante dos chamados pequenos clubes, condenando o racismo dos grandes clubes, uma vez que os jogadores atingidos eram apenas os mulatinhos rosados do Vasco, Bangu, Andaraí e São Cristóvão, sendo o Vasco o mais prejudicado de todos. Os arianos do Fluminense, Botafogo, Flamengo e América nem de leve foram tocados.

Vendo seus planos irem por água abaixo, os clubes grandes decidiram que se afastariam da Liga Metropolitana, formando uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos. Estava decretada a cisão do futebol carioca.

Um ofício assinado pelo presidente do Vasco foi enviado a Arnaldo Guinle, presidente da AMEA, declarando publicamente que negava-se a participar da nova entidade. Esse documento histórico, deu origem a extinção do racismo no futebol.                  Postado por : Morrish Albert

sábado, 19 de março de 2011

Mais uma dica de música


Primeiramente pedir desculpas pela diferença do tamanho do texto do último post, erros ocorrem. Mas o objetivo desse post é mais uma dica de música, e lá vai ela. Johnny B. Goode - Chuck Berry.



Se tiverem alguma crítica ou sugestão de músicas, ou se não estiverem gostando, deixem um comentário em algum post sobre música. Obrigado, e até logo.

Resumo sobre a participação dos Afro-descendentes no esporte

A participação do negro no esporte mundial tem suscitado a curiosidade e o interesse de muitas pessoas, estejam elas ligadas diretamente às áreas das atividades físicas, ou não. Também, algumas pesquisas, dentro desse tema, já foram feitas para tentar explicar o desempenho dos atletas negros em algumas modalidades esportivas, sendo quase que exclusivamente voltadas para as “individualidades biológicas” dos afro-descendentes. Tendo sua origem no feito do lendário corredor norte-americano Jesse Owens, na Olimpíada de Berlim, em 1936, a proposta deste artigo é justamente oferecer uma releitura do negro no esporte e refletir como foram produzidas, através da história, várias representações que engendraram muitas identidades neste sujeito, priorizando desnaturalizar uma destreza, a priori, para determinados esportes e outros, não. A questão do conhecimento que orientou esta pesquisa foram os estudos culturais e sua perspectiva da produção de identidade. Para tanto, procura-se resgatar um pouco da história da Educação Física no Brasil e seus primeiros olhares para as pessoas negras, mostrando como ela foi usada pelo movimento eugênico, para seus intentos de melhoria da raça brasileira.

esse foi um resumo que eu achei no: http://www.efdeportes.com/efd126/a-participacao-do-atleta-negro-no-esporte.htm

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dica de música


Como falar na história dos afro-descendentes, sem falar de falar de música? Ao longo do tempo vamos dar sugestões sobre músicas feitas por afro-descendentes. E aqui vai a primeira. Uma do Rei do Blues, B.B. King.




Fiquem ligados para a próxima sugestão, e até mais.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A introdução dos Afro-descendentes no Brasil


Para explicar a introdução do negro no Brasil, basta mencionar:

• O lucro obtido com o tráfico de escravos;
• A escravidão dos índios não atendia aos interesses dos colonizadores;
• A população nativa apresentava baixa densidade demográfica;
• O aprisionamento de índios gerava guerras constantes com as tribos.

Dentre todos esses aspectos a mão-de-obra negra se fazia mais lucrativa e viável do que as demais. Desde o século XV, os portugueses praticavam o tráfico de escravos africanos e faziam uso dessa mão-de-obra nos canaviais. As primeiras levas de escravos africanos chegaram ao país por volta de 1532 a 1538, constituindo a maior parte da população na época e a maioria da força de trabalho usada na colônia.

Tráfico negreiro

O tráfico negreiro durante mais de três séculos resultou em grandes lucros para o território brasileiro, além de ter trazido ao Brasil aproximadamente três milhões de escravos. Em território africano esses negros funcionavam como uma moeda de troca, por exemplo, trocava-se um negro por aguardente de cana, espelhos, rolos de fumo, entre outros. Quando chegavam ao território brasileiro eram comercializados nos mercados da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranhão e do Pernambuco, onde suas mãos-de-obra eram empregadas na lavoura, mineração, pecuária ou em trabalhos domésticos. Toda a economia da colônia e do Império dependia quase que somente do trabalho realizado pelos escravos africanos. Sendo graças ao trabalho deles que se deu o desenvolvimento da monocultura canavieira, monocultura cafeeira e da mineração.


Resistência contra a escravidão

Durante todo o período de escravidão houve inúmeros casos de resistência dos escravos, pois estes tentavam conseguir a sua liberdade de uma forma ou de outra. Certos negros quando fugiam, retornavam a propriedade onde era submetido ao trabalho escravo, e matavam os senhores, os familiares do mesmo e os capitães-do-mato. Alguns escravos se suicidavam, pois achavam que essa era a única maneira de obter sua liberdade. No entanto uma das formas mais expressivas de resistência contra a escravidão foi a dos quilombos.

Herança Cultural

Os negros foram de fundamental importância para a formação da cultura e do povo brasileiro. Na língua brasileira existem diversas palavras provenientes da língua africana. Os negros africanos também trouxeram para o Brasil animais e plantas que aqui não havia, como, por exemplo, dendê, galinha d’angola, entre outros. Além disso, os negros também influenciaram na dança, na música, nos instrumentos, entre outros aspectos da cultura brasileira, como, por exemplo, a capoeira, berimbau, etc.

segunda-feira, 7 de março de 2011

AIDS tem cor ou raça?

 No dia 1o de dezembro de 2004, Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, O Globo e outros jornais noticiaram
o lançamento do Boletim Epidemiológico– AIDS de 2004, divulgado pelo Ministério da Saúde. Apesar de quase todas as manchetes terem enfatizado o crescimento da epidemia entre mulheres e “negros”, o então Diretor do Programa Nacional de DST/AIDS (PN-DST/AIDS), Pedro Chequer, afirmou: “a AIDS não é uma doença [sic] associada à raça negra, tanto que a maioria dos casos registrados é de gente branca,
[...] a população negra de mais baixa escolaridade é mais desinformada e, portanto, mais exposta à doença [sic]” 1 (p. 14). A então presidente da organização não-governamental (ONG) Arco-Íris, Ana Paula Prado, ofereceu interpretação similar: “a doença [sic] começou a ter a cara do Brasil. Ataca pessoas pobres, de baixa instrução e nos lugares mais distantes dos grandes centros” . A despeito dessas análises, que tendiam a não racializar a epidemia, simultaneamente ao lançamento do Boletim foi divulgado o Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros – Brasil AfroAtitude 3, uma parceria entre o PNDST/AIDS, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação. O programa previa bolsas de estudo voltadas para“contribuir para a formação de estudantes negros como promotores de saúde e de qualidade de vida, e para a produção de conhecimentos no campo da prevenção, aconselhamento e assistência às DST/AIDS”

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,23(3):497-523.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Paraíba tem maior índice de negros mortos.

A Paraíba encabeça a lista dos estados brasileiros com maior disparidade entre homicídios de pessoas negras e brancas. Em 2008, foram mortos 1.083% mais negros do que brancos em todo o estado. Para cada pessoa branca assassinada, 20 negros foram mortos. Na contramão desta estatística, a Paraíba apresentou o menor índice, de todos os estados do Brasil, a menor taxa de homicídios de brancos. Os números foram divulgados ontem em Brasília e estão no Mapa da Violência 2011 - um estudo nacional apresentado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz -, cujos dados são referentes ao ano de 2008.


De acordo com dados da pesquisa, violência atinge mais os jovens negros Foto: Ovídio Carvalho/ON/D.A Press
Em 2002, primeiro ano que a taxa começou a ser medida, foram 386% de negros mortos a mais do que os branco e desde então a Paraíba vem encabeçando a lista. Já em 2005, o número saltou 678%. Em 2008, foram 925 negros mortos, enquanto 46 pessoas brancas foram vítimas de homicídios. Apesar de encabeçar a lista, os números da Paraíba seguem a tendência nacional, onde dois em cada três homicídios registrados são em pessoas negras. Alagoas, Bahia, Pernambuco e Ceará completam a lista da disparidade entre população branca e negra.

Entre as causas apontadas pelo crescente número da população negra está a vulnerabilidade social. De acordo com o pesquisador, os negros estão entre os mais pobres e morando em zonas de risco. "Alguns estados têm taxas insuportáveis. Não é uma situação premeditada, mas tem as características de um extermínio. A distância entre brancos e negros cresce muito rápido. O que acontece com a segurança pública é o que já aconteceu com outros setores, como educação, saúde, previdência social: a privatização. Quem pode, paga a segurança privada", diz o pesquisador Waiselfisz.

E é justamente extermínio a palavra usada por representantes da Organização de Mulheres Negras da Paraíba Bamindelê. "Quando vemos dados como estes, observamos um processo de extermínio da população negra porque são criados estereótipos em torno do negro. Para melhorar esse aspecto, é preciso admitir que háracismo no Brasil e políticas públicas que eduquem para a diferença", acredita Luana Natielle, educadora social da Bamidelê.

Se considerar o índice de homicídios por faixa etária da população negra a Paraíba também aparece no topo da lista. A população considerada jovem (entre 15 e 24 anos) foi responsável por 336 das mortes totais registradas em 2008, enquanto 16 jovens brancos foram vítimas de homicídio. O número de vítimas entre os negros apresenta-se em uma crescente desde 2002, quando o número era 167 saltando para 228 no ano de 2005.

Capital

O Mapa da Violência também levantou dados referentes aos homicídios nas Capitais dos estados e constatou que João Pessoa subiu seis posições no ranking e agora está na 5ª colocação. A capital paraibana, há dez anos, encontra-se na 11ª posição entre as 27 capitais. A cidade está atrás de Maceió (Capital mais violenta), Recife, Vitória e Salvador.

O crescimento de homicídios na Capital paraíba em dez anos foi de 89%. A taxa de homicídio em João Pessoa passou de 33,3por cem mil habitantes em 1998 para 107,1 em 2008. Naquele ano foram registrados 220 homicídios enquanto neste o número saltou para 416, o maior registrado em dez anos. Esse crescimento segue uma tendência nacional, uma vez que 18 das 27 Capitais apresentaram crescimento no registro de homicídios. Se considerar os municípios com mais de cem habitantes, João Pessoa aparece na 85ª posição.
Fonte: Jornal O Norte.
Link: http://www.jornalonorte.com.br/2011/02/25/diaadia5_0.php